Assim é, o preço de uma factura sem valor atribuido, injusto. Porém, lembrando que o pedido anteriormente efectuado tenha sido o da injustiça, justa a cobrança se torna.
Helder Aires
Na semana passada desloquei-me a Lisboa e por lá permaneci durante 3 dias no âmbito de uma formação avaliativa, protagonizada pela Associação Meridianos. O objectivo desta formação visou a formação e recrutamento de recursos humanos para posteriormente integrar numa equipa multi-disciplinar para o futuro Centro Educativo de Vila do Conde.
No que diz respeito à experiência, esta formação teve enorme importância dentro da minha esfera, não só profissional, como também pessoal, pela razão de que enquanto Animador Sócio-Cultural ambiciono trabalhar na área da intervenção com especial incidência na população jovem.
O facto de a minha escolha, enquanto profissional de intervenção, ter recaído sobre o “jovem” advém do fascínio por este público-alvo e prende-se em grande parte pela forma como o meu percurso pessoal decorreu. Porque, de facto a minha adolescência não se desenvolveu dentro dos padrões "normais” de desenvolvimento do adolescente, apesar das vicissitudes da vida consegui dar a volta e hoje, felizmente, vejo-me a singrar. Obviamente, tudo isto levantou-me questões no que toca a oportunidades de igualdade, não só a nível económico como, também a nível da adaptação das metodologias de ensino e sendo que o sucesso ou insucesso desta fase da nossa vida dita em grande parte o nosso carácter enquanto Adulto...todas estas questões alertaram a minha consciência para importância da adolescência na construção do indivíduo no seu Ser.
Contudo, verifiquei num grupo de 75 pessoas, a sua larga maioria com formação superior na área social, a falta de conhecimento, ou de uma definição da minha área profissional, deficiente...e é com base nesse constatar no seio de uma àrea comum que, resulta a surpresa e este texto.
Porém, não é menos verdade de que estou consciente da conotação existente do “palhaço” associada ao Animador Sócio-Cultural, o que deu lugar à criação por parte da sociedade de um falso estigma de "entertainer" ou então de que o lúdico está obrigatoriamente ligado. O lúdico, é sim uma das ferramentas do animador enquanto agente sócio-educativo, ou seja, como posso usufruir dela, como posso abdicar. Esta situação, do falso estigma, também se deve ao crescente número de animadores Sócio-Culturais que exercem a sua actividade enquanto “freelancer” e associados a empresas de produção de festas, eventos culturais, desportivos, turísticos ou outros. Ainda que, e para não ser mal compreendido, não descuro o lúdico, pelo contrário tenho noção da sua importância, o que dá ao animador uma certa mais-valia em relação aos outros tipos de educadores.
No entanto, primeiramente e como a definição assim o indica, esta é uma área de intervenção com o intuito de incentivar os animandos/educandos a organizarem a sua vida no seu meio envolvente e a integrarem-se na sociedade, participando activamente, construindo o seu projecto de vida e demonstrando através da realização de diversas actividades quais as capacidades e as competências de cada um. Aliás, tal como um Centro de Educativo se propõe, na medida em que este rege-se através de uma politica intervencionista, a tal ponto que, e na senda da lei tutelar educativa, conforme friza na alínea C, com base no decreto de lei nº 323-D/2000 para um Centro Educativo, artigo 25.º (finalidades e estrutura de programas) este define isso mesmo através do segundo ponto:
2- Entre outros, são desenvolvidos em centro educativo os seguintes programas:
a) De formação escolar;
b) De orientação vocacional e de formação profissional;
c) De animação Sócio-Cultural e desportivos;
d) De educação para a saúde e terapêuticos;
e) De satisfação de necessidades educativas específicas associadas ao comportamento delinquente.
Igualmente no Artigo 28º:
1- Os programas de animação Sócio-Cultural e os programas desportivos constituem um complemento obrigatório dos programas de formação escolar, de orientação vocacional ou de formação profissional, privilegiando áreas diversificadas e atractivas para os educandos, que estimulem a sua criatividade e o desenvolvimento das suas aptidões.
2- Sempre que possível, ao educando deve ser permitida a opção pelos programas de animação Sócio-Cultural e desportivos que melhor correspondam aos seus interesses, sendo obrigatória a frequência de, pelo menos, duas actividades semanais regulares num mínimo de cinco horas, no seu conjunto.
3- Sempre que possível, os centros educativos devem envolver instituições e voluntários da comunidade na organização e desenvolvimento dos programas de animação sócio cultural e desportivos, bem como possibilitar a participação de outros jovens nesses programas.
Artigos estes que, corroboram a animação Sócio-Cultural como área de intervenção. Onde o animador estuda, integrado em equipas multidisciplinares, o grupo alvo e o seu meio envolvente, diagnosticando e analisando situações de risco e áreas de intervenção sob as quais actuar. Permitindo, planear em conjunto com a equipa técnica multidisciplinar, projectos de intervenção sócio comunitária, com vista a melhorar a sua qualidade de vida, bem como a qualidade da sua inserção e interacção social.
Embora, considere como positiva a formação e apesar de que tenho a noção da função da área na qual me encontro, onde o animador mune-se de metodologias participativas e activas para promover a implicação responsável e livre dos indivíduos na comunidade onde se inserem, tornando-os protagonistas do seu próprio desenvolvimento…fez com que grande parte do conteúdo da formação não fosse novidade para mim,contudo...não deixei de me surpreender por uma segunda vez, pela razão de que, entre, 75 pessoas apenas haver 2 animadores presentes, sendo que eu era um deles. Muito provável pela fraca adesão de animadores candidatos.
Ainda assim, para terminar e em jeito de conclusão congratulo-me por ter conseguido, junto de colegas profissionais em àreas como a Psicologia, Acção Social e Educação Social clarificar e sensibilizar uma vez mais uma área que tanto acredito, desta forma venho reforçar para comigo mesmo estar na área certa, onde acredito que esta além de ser eficaz, pode caminhar mais além, podendo envergar pelos trilhos da eficiência caso a vocação e a crença por este tipo de metodologia alternativa estiver presente não só no profissional como na pessoa.
Nunca será demais reforçar que, tenho um sério problema com, Música.Efectivamente é o único factor, neste meio, que na verdade ainda me consegue fazer rasgar com o comodismo ao dar movimento à apatia. Esta, atinge-me que nem bala certeira mas no sentido contrário...de dar vida e não com a finalidade de a retirar.