http://www.cemiterioscadentro.blogspot.com/2012/02/this-is-our-only-chance-to-make-it-big.html
Solidão domésticaNão há motivo para te importunar a meio da noite, como não há leite no frigorífico, nem um limitetraçado para a solidão doméstica.Tudo desaparece. Nada desaparece. Tudo desapareceantes de ser dito e tu queres dormir descansada. Tensdireito a um subsídio de paz.Se eu escrever um poema, esse não é motivo para te importunar. Eu escrevo muitos poemas e tu trabalhas de manhã cedo.Toda a gente sabe que a noite é longa. Não tenho oo direito de telefonar para te dizer isso, apesar dessa evidência me matar agora.E morro, mas não morro. Se morresse, perguntavas: porque não me telefonaste? Se telefonasse, perguntavas: sabes que horas são?Ou não atendias. E eu ficava aqui. Com a noite aindamais comprida, com a insónia, com as palavras a despegarem-se dos pesadelos.José Luís Peixoto-Gaveta de Papéis-2008
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Solidão doméstica
Não há motivo para te importunar a meio da noite,
como não há leite no frigorífico, nem um limite
traçado para a solidão doméstica.
Tudo desaparece. Nada desaparece. Tudo desaparece
antes de ser dito e tu queres dormir descansada. Tens
direito a um subsídio de paz.
Se eu escrever um poema, esse não é motivo para te
importunar. Eu escrevo muitos poemas e tu trabalhas
de manhã cedo.
Toda a gente sabe que a noite é longa. Não tenho o
o direito de telefonar para te dizer isso, apesar dessa
evidência me matar agora.
E morro, mas não morro. Se morresse, perguntavas:
porque não me telefonaste? Se telefonasse, perguntavas:
sabes que horas são?
Ou não atendias. E eu ficava aqui. Com a noite ainda
mais comprida, com a insónia, com as palavras
a despegarem-se dos pesadelos.
José Luís Peixoto
-Gaveta de Papéis-
2008
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